ROMANCE E POESIA
“Escrevo … porque preciso. Porque se não escrever, morro.”
“Escrevo porque não sei viver de outra forma. Escrevo porque, quando não escrevo, o mundo torna-se uma superfície opaca, sem fissuras, sem sentido. Escrever é esse ato de escavar — escavar em mim e no mundo, até ao ponto em que ambos já não se distinguem.“

O QUARTO DA MÃE
O quarto de uma mãe é sempre, para o filho, um espaço interdito. É o lugar da origem, mas também do mistério. O espaço onde a vida começou, onde o corpo materno se confunde com o mito.
Ao escrever O Quarto da Mãe, tentei atravessar esse interdito. Não se tratava apenas de falar da figura materna, mas de encarar de frente a sua ausência, o seu desvanecimento, a sua transformação em fantasma.
O livro nasceu também de uma experiência pessoal de perda. Quando a morte entra no quotidiano, quando a figura materna já não é presença mas ausência, resta-nos o silêncio ou a palavra. Eu escolhi a palavra. Escrevi para não esquecer, para preservar não a imagem ideal, mas a verdade dolorosa da relação. Nesse sentido, O Quarto da Mãe foi o meu livro mais íntimo, mais visceral.

OBEDIÊNCIA
O que significa obedecer? Em que medida a obediência é condição da vida em sociedade, e em que medida é a sua negação mais radical? Sempre me fascinou essa tensão entre liberdade e submissão, entre a vontade individual e a ordem imposta. Desde cedo percebi que nenhuma vida se cumpre sem, de algum modo, enfrentar essa questão.
A obediência é um instinto aprendido. Desde crianças, somos ensinados a obedecer: aos pais, aos professores, às instituições, à lei, à religião. E em cada obediência há uma promessa de proteção, mas também uma renúncia: a renúncia a ser plenamente si mesmo.
Foi essa ambiguidade que procurei explorar. O romance nasceu como uma interrogação sobre os limites dessa renúncia: até onde podemos ceder sem nos perdermos?

VISITAÇÕES
Visitações aborda, com uma grande honestidade e sensibilidade, o ato criativo e a necessidade da beleza e do cintilar das pequenas coisas para dar significação ao mundo e à vida — à existência.
Tal vibrar poético é uma constante em Visitações. Sente-se que o autor, atento às fragilidades do corpo e da alma, se empenha em desvendar os múltiplos sentidos de acontecimentos, de visitações — numa imagem poética, a alma afirma a sua presença — que experimentou e que agora transforma na poderosa e frágil oficina da poesia.

DIÁRIO DE UM ENFORCADO
Diário de um enforcado é uma síntese poética dos Últimos dias do apóstolo Judas Scariotes.
Retratam-se três momentos marcantes na vida deste judeu, demonizado pelo mundo ao longo dos séculos: a consternação do rebelde pela perda do seu amigo confidente, o enforcamento na figueira como sublimação de todo o amor perdido e a derradeira redenção com a sua ascensão diante do anjo Lúcifer.
É um livro de poesia, com desenhos de Manuel Rodrigues, que pode ser lido com o desprendimento de qualquer intènção gnóstica ou teosófica.
